Resgatando a identidade: cuidando de si mesmo e da doutrina em tempos de apostasia
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Pr. Cleber Montes Moreira
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (1 Timóteo 4:16)
O título deste artigo não é meu; eu o tomei emprestado de uma publicação no site da Convenção Batista do Pará, que menciona algo sobre a “formação de líderes denominacionais”1. Creio que neste tempo de confusão e apostasia, ele reflita, mais do que em qualquer outro momento, uma necessidade imperiosa para nossas igrejas: pastores verdadeiramente batistas para igrejas batistas.
Assim como uma igreja batista, um pastor batista deveria ser reconhecido inequivocamente quanto às suas convicções e práticas, mas infelizmente isso já não é mais tão evidente. Em relação à denominação, tenho percebido o crescimento no número de pastores que deixaram de lado a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, rejeitando o documento ao qual um dia se comprometeram a ser fiéis. Pior que isso, abandonaram a Bíblia como sua única regra de fé e prática, seu principal instrumento de trabalho, e que deveriam manejar bem (2 Timóteo 2:15), e passaram a orientar seus ministérios por outras fontes e crenças, levando suas igrejas por esses mesmos caminhos.
Soube de um pastor batista que, durante uma conversa entre colegas, confidenciou sua dúvida sobre a forma correta do batismo: imersão ou aspersão. Ele afirmou não estar plenamente convencido de que o batismo bíblico seja por imersão e citou vários estudiosos que defendem a aspersão como o modo correto. Curiosamente, nesse momento, ele não fez referência a textos bíblicos, demonstrando assim mais confiança nos “especialistas” ou, como diria Silvio Santos, nos “universitários”, do que na Palavra de Deus. Ainda outro pastor batista muito conhecido divulgou um curso bíblico em que, na propaganda, chamou as ordenanças de “sacramentos”. Não é surpresa que alguns estejam se “convertendo” à velha religião idólatra. É o que mostram alguns sites e perfis nas redes sociais dedicados a publicar “testemunhos” de ex-evangélicos que se converteram ao catolicismo, dentre os quais há muitos oriundos de denominações que surgiram a partir do movimento reformista.
Numa postagem no Instagram, um ex-pastor, mas ainda tratado como tal, membro de uma igreja batista e liderando Pequenos Grupos, afirma que a crença na inerrância da Bíblia é idolatria. Em um vídeo anterior, ele já havia dito que não lê a Bíblia, mas sim lê Jesus. No seu entendimento, quem quer ler algo inerrante deve ler Jesus de Nazaré. No entanto, ele não considera que não é possível ler Jesus sem ler a Bíblia, da qual Jesus é o centro. Parece-me que isso tem se tornado um expediente comum daqueles que querem manter o status, sem, no entanto, abrir mão da apostasia da fé. São lobos, mas se vestem de ovelhas para não causar pânico no rebanho. Jesus mesmo nos alertou que esses “falsos profetas” viriam até nós “vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7:15).
Assim como os apóstolos apresentaram Jesus a partir da exposição fiel das Escrituras, é por meio da Bíblia que O apresentamos ao mundo (Atos 2:16-36; 8:35; 18:28; Gálatas 3:8,9). O próprio Senhor se revelou como aquele anunciado nas Escrituras (João 7:38; Lucas 24:44-48). Também os escritores neotestamentários apresentaram Jesus a partir da mesma fonte, as Escrituras sagradas, bem como ensinaram com base nelas, reconhecendo sua inspiração e inerrância (Romanos 1:1-6; 10:11; 1 Coríntios 15:4; 2 Timóteo 3:16,17). Portanto, não é possível ler Jesus ou anunciá-Lo colocando nossa Bíblia de lado ou relegando-a a um papel secundário. Um evangelho desprovido da Bíblia será um evangelho sem Jesus! E quanto à sua procedência, sabemos qual é.
Essas afirmações infelizes, como a do “pastor” acima referido, estão relacionadas a outras que têm surgido, nas quais vemos alegações de que a Bíblia está repleta de mitos, que necessita de atualização ou até mesmo de ser reescrita. Geralmente, essas declarações são feitas por líderes liberais, que rejeitam ou reinterpretam certos textos bíblicos, como os escritos de Paulo, alegando que eles refletem uma cultura patriarcal, são misóginos, homofóbicos, entre outras coisas. Eles consideram qualquer (re)leitura que possa validar seus pressupostos, enquanto procuram deslegitimar a verdade e atacar aqueles que se dispõem a orientar biblicamente o rebanho de Deus. Com base em seus ensinamentos, estão edificando uma “igreja” que, obviamente, não é a igreja de Cristo.
A partir de sua desconexão da Palavra de Deus, pastores têm assumido posições e práticas estranhas, dentre as quais menciono algumas: práticas pentecostais, abandono da disciplina, ecumenismo, sermões sem base bíblica, sermões de autoajuda/coaching, normatização de práticas pecaminosas, ensino do universalismo etc. Cito abaixo alguns exemplos:
(1) Pastores batistas falando em “línguas estranhas”, pregando uma “segunda bênção”, indo “orar no monte” e adotando outras práticas não comuns entre os batistas;
(2) Uma pastora batista da CBB, em uma live para uma igreja inclusiva, em sua saudação utilizou a linguagem neutra: “Todos, todas e todes”;
(3) Pastores batistas que, durante a pandemia do Coronavírus, praticaram ceia e batismos online;
(4) Igrejas batistas realizando eventos ecumênicos, inclusive com a participação de padres e outras autoridades religiosas no louvor, na pregação e na “bênção apostólica”;
(5) Pastores batistas alinhados às ideologias políticas que defendem o aborto, a ideologia de gênero, o controle da mídia etc.;
(6) Um pastor batista afirmou, durante uma pregação, que a igreja precisa discutir a inclusão de pessoas LGBTQIA+ em sua membresia;
(7) Um diretor de um seminário batista (que pediu demissão recentemente) publicou uma série de vídeos para a família nos quais ele considera a prática homoafetiva como normal. Ele justificou sua posição através de uma “releitura” de vários textos da Bíblia;
(8) Pastores dando um novo sentido aos “Princípios Batistas”, especialmente no que diz respeito à liberdade, trabalhando com sutileza para solapar a sã doutrina;
(9) Pastores levando suas igrejas à perda da visão missionária e ao estabelecimento da concorrência entre igrejas coirmãs, como quando uma igreja abre uma congregação ou filial (rede de igrejas) próxima a outras igrejas já estabelecidas;
(10) Algumas igrejas ainda filiadas à CBB, por razões de marketing ou por terem perdido sua identidade doutrinária, estão removendo o nome “batista” de suas fachadas, razão social e documentos em geral.
O enfraquecimento eclesiológico e os desvios doutrinários têm afetado gravemente a identidade denominacional. Ao lermos uma placa que diz “Igreja Batista”, já não temos certeza do tipo de culto que é praticado ali. Não sabemos se essa igreja ainda é verdadeiramente batista ou se já foi contaminada. Restaurar essa identidade é um desafio árduo e, infelizmente, nem sempre há disposição para realizá-lo.
É necessário que as igrejas (e toda a denominação) estejam empenhadas em resgatar a identidade batista por meio de uma eclesiologia e prática doutrinária bíblica. Tenho observado, com tristeza, a facilidade com que certos pastores desviam igrejas que antes eram fiéis à Palavra de Deus.
Diante do quadro exposto (de forma resumida), deveríamos adotar o seguinte lema: “Pastores batistas para igrejas batistas”. Ainda existem muitas igrejas sérias que, durante um momento de transição pastoral, devem estar atentas e buscar um pastor verdadeiramente batista. Isso requer, além de orações e a observância dos critérios bíblicos, uma avaliação minuciosa do candidato. Por outro lado, existem muitos pastores batistas fiéis que não encontrarão espaço em uma igreja cujo perfil já não condiz com o seu. Além disso, a formação de novos pastores comprometidos com a sã doutrina é uma necessidade urgente, tanto para atender às igrejas quanto para resgatar a identidade denominacional. Por isso, precisamos cada vez mais de seminários cujo foco esteja na capacitação de vocacionados e na formação de obreiros, e não de “profissionais da fé”.
Ao escrever sobre a apostasia dos últimos tempos, Paulo recomenda a Timóteo o cuidado e a perseverança na doutrina. Ele deveria se agarrar a ela firmemente, se aplicar ao seu estudo e pregação. Essa é a mais nobre tarefa do pregador: impregnar-se da Palavra de Deus — inspirada, inerrante e suficiente —, defendê-la e proclamá-la como a verdade. É da ausência dessa convicção e desse trabalho que tem resultado a apostasia da fé. Todavia, é a convicção e a prática recomendadas por Paulo o instrumento para a direção firme do povo de Deus e para a salvação dos pecadores.
Como batistas, somos considerados “o povo da Bíblia”. Para continuarmos merecendo esse título, não devemos nos afastar jamais das Escrituras. É preciso que cada pastor batista cuide de si mesmo e da doutrina, e que assim também o façam os irmãos. Que este santo zelo nos leve a considerar o que significa “pastores batistas para igrejas batistas”, a fim de que nenhuma igreja seja perturbada, ou mesmo afastada da Bíblia, por um líder infiel.
Infelismente este é um reslidade que não podemos negar, a igreja tem deixsdo de influenciar e tem se deixado ser influenciada pelo mundo. Contudo Deus tem levantado neste tempo verdadeiros servos que não tem deixado de viver o verdadeiro evangelio e tem pautado suas vidas na Palavra. Sendo realmente discípulos de Jesus Cristo.
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