“Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.” (Hebreus 11:13)
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Em meio ao movimento do shopping, Júlia e seu filho caminhavam tranquilamente, até que um brinquedo despertou a atenção do pequeno. Quando a mãe recusou a compra, o menino armou um verdadeiro espetáculo: lágrimas rolavam, o corpo se jogava ao chão, e seus gritos ecoavam pelos corredores.
Imperturbável, Júlia sentou-se em um banco próximo e observou o drama se desenrolar. Olhares curiosos e de reprovação eram lançados em sua direção, mas ela permaneceu serena. Gradualmente, como uma nuvem de verão que se dissipa, a fúria da criança se desfez. Apesar do espetáculo, a birra do filho não moveu o coração firme da mãe.
Pais conscientes sabem o que é melhor para seus filhos, entendem o que devem dar e o que devem negar, bem como o momento certo de fazê-lo.
Uma frase muito comum no meio evangélico é: “A oração move a mão de Deus”. Cheguei a ler em um site religioso que “a oração move a mão de Deus e o mundo espiritual a nosso favor”. Isso sugere que nossa vontade prevalece sobre a de Deus, ou pior, que Ele está a nosso serviço, pronto para realizar nossos desejos. Muitos, como o menino no shopping, fazem “pirraça” em suas orações, esperando que Deus se renda a seus caprichos, no entanto Ele se mantém sereno e imperturbável.
Precisamos abandonar essa atitude infantil e amadurecer espiritualmente. Uma declaração de Paulo, tomada de outro contexto, tem um princípio que deve nos motivar a buscar a maturidade: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Coríntios 13:11). Fazer “birra” por desejos não realizados é coisa de criança; porém, somos chamados a viver com maturidade.
Se nós, pecadores, sabemos dar boas coisas aos nossos filhos e entendemos quando dizer “não” para o bem deles, quanto mais o nosso Pai celestial (Mateus 7:11). Cabe a nós confiarmos plenamente que Sua vontade é sempre a melhor para nós, assim como o momento certo para as respostas às nossas orações. Nossa vontade é que deve estar sujeita à boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2), e não o contrário.
Chegou a hora de orarmos, não para “mover a mão de Deus”, mas para que Deus mova os nossos corações. Pense nisso!
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João 15:7 é frequentemente interpretado como uma garantia de que podemos pedir qualquer coisa a Deus e sermos atendidos. No entanto, essa interpretação é simplista e ignora o contexto mais amplo do texto. Muitas vezes, essa leitura reflete um entendimento parcial e distorcido, que considera apenas o que agrada aos nossos desejos imediatos, sem atentar para as condições impostas por Jesus.
O Senhor estabelece uma regra clara para que a promessa de João 15:7 se concretize: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós”. Esse “se” inicial nos indica que há um pré-requisito para que as orações sejam atendidas. Jesus fala aqui de uma união íntima e vital entre Ele e Seus discípulos. Ele se identifica como a videira verdadeira e os discípulos como ramos dessa videira (João 15:1-6).
Estar em Cristo significa ser parte integrante da videira. Assim como os ramos dependem da videira para receber nutrientes e crescer, nós dependemos de Cristo para nossa nutrição espiritual e frutificação. Esse estar em Cristo implica ser continuamente alimentado por Ele e orientado por Suas palavras (ensino/doutrina). As palavras de Jesus não são apenas instruções, mas são a própria vida e verdade que moldam nossos pensamentos, ações e desejos.
Quando permanecemos em Cristo, nosso coração, mente e vontade são transformados para estarem em harmonia com a vontade de Deus. Portanto, estar em Cristo significa viver em alinhamento com Sua vontade manifesta e revelada em Seu ensino (palavras) e exemplo.
Há um contraste muito claro entre duas naturezas: o homem carnal e o homem espiritual. Aquele que não está em Cristo, mas é orientado por seus próprios impulsos e desejos, fará orações que refletem esses mesmos desejos egoístas e terrenos. Este é o homem carnal, cuja vida é regida por desejos e ambições antagônicas à vontade de Deus.
Por outro lado, o homem espiritual é aquele que está em Cristo e em quem as palavras de Cristo permanecem. Para esse homem, as orações não são meras listas de desejos pessoais, mas expressões de uma vontade transformada que deseja aquilo que Cristo deseja. Suas orações refletem um coração que prioriza o Reino de Deus e Sua justiça, em conformidade com a vontade divina.
As Escrituras são claras em afirmar que as orações que surgem de um coração carnal, egoísta e desobediente não são atendidas por Deus: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tiago 4:3). Por outro lado, a oração do justo, ou seja, daquele que está em Cristo e em quem as palavras de Cristo habitam, é poderosa e eficaz. Tiago 5:16b diz: “A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”. O justo não é alguém perfeito (Tiago 5:17), mas alguém justificado por Cristo; uma nova criatura; é aquele cuja vida está alinhada com Deus, e cujas orações refletem o desejo de cumprir o querer divino.
Diante do exposto, respondamos sinceramente à importante pergunta: o que nossas orações dizem sobre nossa natureza? Elas revelam um coração carnal ou espiritual? Refletem desejos egoístas ou um coração moldado pelas palavras (ensino/doutrina) de Cristo?
A promessa de João 15:7 — “pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” — depende necessariamente de nossa condição espiritual. Estar em Cristo e ter Suas palavras em nós significa que nossas orações estarão alinhadas com a vontade de Deus, e Ele se agrada em responder a essas orações.
Assim, João 15:7 não é uma promessa de que Deus atenderá todos os nossos caprichos e desejos egoístas, mas uma garantia de que, quando estamos verdadeiramente em Cristo e Suas palavras habitam em nós, nossas orações estarão sujeitas à Sua vontade, e assim Ele nos ouvirá e responderá. A chave para a oração eficaz é, portanto, estar em Cristo e Suas palavras em nós. Pense nisso!
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A parábola dos dois filhos, contada por Jesus em Mateus 21:28-32, expõe claramente a hipocrisia dos líderes religiosos de sua época e, ao mesmo tempo, nos convida a refletir sobre a nossa própria postura diante de Deus. Quando questionado sobre sua autoridade, o Senhor usou essa parábola para revelar a diferença entre uma fé genuína e uma religiosidade vazia.
Na história, um pai convida seus dois filhos a trabalharem na vinha. O primeiro filho, que inicialmente recusa, porém mais tarde se arrepende e vai, representa aqueles que eram considerados os piores pecadores na sociedade judaica do tempo de Jesus, como os cobradores de impostos e as meretrizes. Eles disseram “não” a Deus com suas vidas, mas, ao ouvirem a mensagem de arrependimento e redenção, mudaram de atitude e obedeceram ao chamado divino. O segundo filho, por outro lado, prontamente diz “sim” ao pai, mas não cumpre o que prometeu. Ele simboliza a liderança religiosa da época — os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo — que professavam devoção a Deus, mas falhavam em obedecer verdadeiramente. Vale destacar que o chamado foi o mesmo, mas as respostas foram diferentes.
Ao final da parábola, Jesus faz uma pergunta simples, mas que expõe a hipocrisia daqueles religiosos: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” A resposta foi imediata: “O primeiro.” Sem perceber, eles reconheceram sua própria falha em obedecer a Deus, enquanto julgavam os “pecadores” como indignos.
Engana-se quem pensa estar salvo, ou pelo menos mais perto do Reino de Deus, apenas por seguir uma tradição religiosa e realizar certas “boas obras”, ao contrário daqueles que julgamos “os piores pecadores” — e poderíamos fazer uma lista deles sem, no entanto, incluir aqueles cuja espiritualidade é uma farsa. Somos peritos em apontar o dedo para os “pecadores”, mas raramente nos incluímos entre eles.
Jesus afirmou que “os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” (v. 31). Isso nos mostra o contraste entre o verdadeiro arrependimento e a encenação de uma vida de piedade. Aquele que reconhece seu pecado está mais próximo da conversão, pois está livre do orgulho e do sentimento de autossuficiência típicos da religiosidade hipócrita. É por isso que, muitas vezes, é mais fácil para alguém reconhecidamente pecador voltar-se para Deus do que para um religioso orgulhoso.
Esta parábola também nos lembra que ninguém está além do alcance da graça divina. Paulo, outrora perseguidor da igreja, tornou-se obediente a Deus após sua conversão, servindo como exemplo da oportunidade de redenção oferecida (Atos 9:1-22; 1 Timóteo 1:15-16). A oferta de salvação é estendida a todos, inclusive aos religiosos hipócritas.
Finalmente, esta parábola nos desafia a examinar nossa própria vida e a refletir sobre a autenticidade de nossa fé. Será que estamos apenas dizendo “sim” a Deus com nossos lábios enquanto nossos corações estão longe dele? Qual filho da parábola nos representa? A verdadeira religião vai além das palavras e se manifesta numa vida de obediência, digna do evangelho. Que possamos estar diante de Deus com um coração sincero e contrito, sempre dispostos a fazer Sua vontade. Pense nisso!