Elizabeth Eaton, líder da Igreja Luterana nos EUA, divulga carta a favor do aborto | A Palavra

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Elizabeth Eaton, líder da Igreja Luterana nos EUA, divulga carta a favor do aborto

O aborto é uma violência praticada contra um ser em formação, incapaz e indefeso. É prática pecaminosa, e sua defesa atenta contra a vida e o próprio Criador

Imagem: Unsplash
Opinião: Cleber Montes Moreira

A Bispa Elizabeth Eaton, líder da Igreja Luterana dos EUA, divulgou uma carta em que defende o aborto e se posiciona contra a possível anulação do direito a interrupção da gravidez pela Suprema Corte Americana. A declaração ocorreu após o vazamento de documentos que indicam que a Corte, de tendência conservadora, deve decidir sobre um caso que pode derrubar uma decisão judicial de 1973, a “Lei Roe vs. Wade”, que legalizou o aborto nos Estados Unidos. A divulgação desses documentos provocou uma série de manifestações pró-aborto, inclusive de evangélicos progressistas.

Em mensagem pastoral na terça-feira, 17 de maio, no site da denominação, a bispa afirmou que “qualquer pessoa que engravidou inesperadamente tem arbítrio moral para discernir o que fazer”. Ainda citou que a declaração social da igreja, de 1991, afirma que o aborto deve ser legal, regulamentado e acessível. Segundo ela, “essa decisão não apenas causaria graves danos a muitas pessoas com gestações inesperadas, mas também poderia criar outros problemas. Provavelmente colocará em risco ou causará a morte de pessoas que precisam de um aborto”. Ainda acrescentou que “as bases legais estabelecidas por qualquer decisão desse tipo ameaçam o acesso das pessoas ao controle de natalidade, casamento entre pessoas do mesmo sexo, direitos de voto e seu direito à privacidade”.

O diálogo sobre o aborto e outros temas considerados sensíveis desnuda o relativismo moral dos chamados evangélicos progressistas. A fé e prática progressista não se fundamenta nas Escrituras, mas varia conforme as condições de tempo, contexto e interesses. Não é sem motivo que, adotando uma postura crítica e revisionista da fé cristã tradicional, reinterpretam as Escrituras e ressignificam textos com o objetivo de respaldar seus ensinos e práticas divorciados do verdadeiro evangelho.

A recente declaração do pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de que “aqui no Brasil não faz (aborto) porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública, e todo mundo ter direito e não ter vergonha” resultou em várias manifestações nas redes sociais. Enquanto conservadores criticaram o ex-presidiário, progressistas saíram em sua defesa. O pastor Zé Barbosa Júnior, por exemplo, ao comentar a fala de Lula, afirmou: “Descriminalizar o aborto não significa, nem de longe, incentivar o ato, mas garantir às mulheres que, por circunstâncias das mais diversas, pensam em realizá-lo, o DIREITO de serem acompanhadas pelo Estado.”1

No Brasil várias autoridades religiosas defendem o direito à interrupção da gravidez. Lusmarina Campos Garcia, pastora luterana, participou em Brasília, em 2018, de audiência pública promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em que defendeu a descriminalização do aborto, representando o ISER (Instituto de Estudos da Religião).2 Em nota a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), assim se manifestou: “Diante da polêmica levantada em torno da participação da Pa. Lusmarina em referida audiência, é importante que fique claro que a Presidência da IECLB não foi consultada, informada, nem mesmo contatada pela referida Pastora acerca de sua participação nesta audiência pública. Ela não estava lá em nome da IECLB e nem falou em nome da IECLB. Portanto, o que falou representa seu posicionamento e não o posicionamento da Igreja sobre este tema. Pa. Lusmarina é Pastora licenciada da IECLB, afastada (a seu pedido) para estudos de pós-graduação.”3 Na mesma ocasião o diretor e professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo (FTBSP), pastor Lourenço Stelio Rega, representando a Convenção Batista Brasileira, defendeu a vida4 (veja sua exposição no final da matéria).

O pastor Henrique Vieira argumenta que “Legalizar (o aborto) significa tratar pelo viés da saúde, da assistência, da escuta, do acolhimento, do respeito. Legalizar não significa incentivar a prática, mas desenvolver uma política de respeito e cuidado”5.

Há no Facebook uma página intitulada “Frente Evangélica pela Legalização do Aborto”. Em postagem fixada lemos: “Compreendemos a criminalização como um atentado aos direitos humanos, que, além de não dar conta de impedir que os abortos sejam realizados, impõe ainda, sobre as mulheres, dor, violência e morte.”6

O argumento de que descriminalizar o aborto não é incentivá-lo, e que a descriminalização contribuiria para a diminuição da prática é deslocado da realidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 1970, portanto antes do caso Roe Vs. Wade, foram contabilizados 190 mil abortos. Já em 1973 foram mais de 615 mil.7

O aborto tem sido uma das principais causas de morte em todo o mundo. Em 2019, o Portal ES Brasil publicou artigo com o seguinte título: “Em 2019 aborto supera causas de morte com 42 milhões”8. Naquele ano, de acordo com o serviço de rastreamento Worldeters, os dados constataram que a prática foi a maior causa de morte em todo o planeta. No momento em que escrevo, 26 de maio de 2022, o número total de mortes no mundo passa de 23 milhões, enquanto o de abortos já soma mais de 17 milhões.9

A afirmação politicamente correta de que “todas as vidas importam” não contempla a vida dos nascituros — é excludente!

Enquanto a Bíblia declara que “os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão” (Salmos 127:3), alguns, sem o temor de Deus, pensam neles como um fardo, um atrapalho ou até mesmo como maldição. Enquanto isso a adoção de animais cresce, e em muitos países o número de pets nas famílias já ultrapassa o número de crianças. Não é sem motivo que o Papa Francisco tenha declarado recentemente: “Hoje vemos uma forma de egoísmo. Vemos que alguns não querem ter filhos. Às vezes têm um, mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar”. Ele ainda afirmou que “a negação da paternidade e da maternidade nos diminui, tira nossa humanidade, a civilização envelhece”.10 A inversão de valores é tamanha que Isabela Freitas, escritora mineira, causou polêmicas ao publicar nas redes sociais em 2020 que “não existe mãe de pet, e que “ser mãe é muito mais do que você faz pelo seu bichinho”.11

Jó se referiu a Deus como “Aquele que me formou no ventre” (Jó 31:15). Davi nos mostra o cuidado de Deus para com ele mesmo antes do seu nascimento: “Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente” (Salmos 71:6). Já no Salmo 139 o salmista declara: “Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia” (Salmos 139:14-16).

Considerando que “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1 Samuel 2:6), o aborto não é apenas uma violência contra um ser em formação, incapaz e indefeso, mas contra o próprio Criador. Em suma, o aborto é pecado e sua defesa atenta contra a vida e o próprio Deus.

Professor e especialista em bioética, Lourenço Stelio Rega participou da audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Ele representou a Convenção Batista Brasileira (CBB).

Livro recomendado: Aborto - O holocausto silencioso.


1 https://revistaforum.com.br/opiniao/2022/4/8/evangelicos-dura-realidade-do-aborto-por-pastor-ze-barbosa-jr-112759.html
2 https://www.facebook.com/lusmarinacg/posts/1573556996082292
3 https://www.luteranos.com.br/conteudo/nota-sobre-a-participacao-da-pa-lusmarina-campos-garcia-na-audiencia-publica
promovida-pelo-stf-sobre-a-proposta-da-descriminalizacao-do-aborto-ate-a-12-semana-de-gestaca
4 https://cbesp.org.br/batistas-defendem-vida-em-debate-sobre-aborto-no-stf/
5 https://www.facebook.com/pastorhenriquevieira/posts/1557950414302556
6 https://www.facebook.com/frenteevangelicapelalegalizacaodoaborto/posts/2082826725279612
7 https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/sabe-aquele-papo-aborto-mentira/
8 https://esbrasil.com.br/em-2019-aborto-supera-causas-de-morte-com-42-milhoes/
9 https://www.worldometers.info/pt/
10 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/01/05/papa-lamenta-que-familias-substituam-filhos-por-animais-domesticos.ghtml
11 https://twitter.com/IsabelaaFreitas/status/1259580856760483841

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