O papel do pastor em tempos de apostasia da fé | A Palavra

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O papel do pastor em tempos de apostasia da fé

Em tempos de crescente apostasia da fé, o papel do pastor é de extrema importância. Ele deve ser guardião da doutrina, defensor das ovelhas e afugentador dos falsos mestres

Pastor afugentando um lobo
Imagem gerada por IA

Pr. Cleber Montes Moreira

Texto bíblico: 2 Timóteo 4:1-5

Em um tempo em que muitos estão se afastando da fé e se multiplicam os falsos mestres, é urgente que os pastores fiéis liderem com responsabilidade e firmeza, manejando com sabedoria a Palavra da Verdade, ensinando e protegendo o rebanho contra qualquer influência que possa desviá-lo da sã doutrina, ao mesmo tempo em que devem combater os hereges, garantindo o bem-estar daqueles a quem Deus lhes confiou para cuidar.

Neste estudo, abordaremos cinco aspectos fundamentais do papel do pastor neste tempo de apostasia da fé. Vejamos:

1. Manejar bem a Palavra da Verdade

O apóstolo Paulo exortou Timóteo a “manejar bem a Palavra da Verdade” (2 Tm 2:15). Conforme nos explica Russel Norman Champlin, “manejar bem” é a tradução do grego “orthotomeo”, que literalmente significa “cortar reto”, provavelmente uma metáfora inspirada nas atividades dos lavradores que “aram em linha reta”, ou na atividade de um alfaiate, que precisa cortar o tecido de forma correta. Isso implica que o pastor deverá usar habilidosamente as Escrituras para a execução de um bom trabalho, assim como o lavrador é habilidoso com seu arado ou o alfaiate com sua tesoura.1

A ferramenta de trabalho do pastor é a Bíblia Sagrada, e ele precisa utilizá-la com destreza. Embora deva buscar conhecimento e aperfeiçoamento recorrendo a recursos complementares, ele deve utilizar a Bíblia como fonte de autoridade, eficaz e suficiente para ministrar ao rebanho, sem se desviar, sem cair na tentação de ressignificá-la ou colocá-la em segundo plano. Ele precisa acreditar no poder da Palavra para a salvação de todos que creem (Rm 1:16) e como instrumento para guiar o rebanho, seguindo a orientação paulina de pregar, estar preparado a tempo e fora de tempo, corrigir, repreender, exortar e instruir em justiça, com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4:2; 3:16). O pastor que despreza as Escrituras ou se encanta por outro objeto de trabalho já apostatou ou está a um passo de apostatar da fé.

2. Ensinar eficazmente o povo de Deus

O conselho de Paulo a Tito deve ser observado por todos que desejam servir fielmente: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2:1). Infelizmente, a palavra “doutrina” hoje é indigesta. Talvez para alguns, a sua rejeição seja parte do esforço para alargar a porta estreita (Mt 7:13). Certa ocasião, numa igreja por onde passei, um seminarista, ao dar um relatório sobre seus encontros evangelísticos com universitários, disse: “Pastor, lá não pregamos doutrina”. Ora, não há evangelização sem doutrina, não há aconselhamento sem doutrina, não há crescimento espiritual sem doutrina, e nem mesmo há igreja sem doutrina, porque a doutrina de Cristo, transmitida pelos apóstolos, é o fundamento a partir do qual a igreja é edificada (At 2:42; Tt 2:1,7,9; 2 Tm 3:10; Ef 2:20-22). Uma igreja sem doutrina seria como um corpo sem a coluna vertebral.

Somente uma igreja alicerçada na Bíblia Sagrada poderá opor-se à apostasia que ameaça o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, o pastor deve ensinar eficazmente. Paulo instrui Timóteo a “exortar com toda a longanimidade e doutrina”, enfatizando a necessidade de um ensino contínuo e consistente (2 Tm 4:2).

3. Resistir aos falsos profetas/mestres

O Novo Testamento alerta repetidamente sobre a presença de falsos profetas e mestres que distorcem a verdade para enganar os crentes (Mt 7:15,16; 2 Pe 2:1; 2 Co 11:13; 1 Jo 4:1; Ap 2:20). É dever do pastor discernir e resistir a essas influências enganosas. Jesus admoestou sobre a vinda de falsos cristos e falsos profetas e instruiu seus seguidores a não se deixarem enganar (Mateus 24:24). O pastor deve estar vigilante, protegendo seu rebanho contra ensinamentos heréticos.

4. Formar liderança competente e comprometida

A formação de líderes fiéis à sã doutrina é vital para a saúde da igreja local e sua preservação para as futuras gerações. O apóstolo Paulo instruiu Timóteo a selecionar líderes competentes e comprometidos, que fossem aptos a ensinar e a liderar com integridade (1 Tm 3:1-13; 2 Tm 2:2). O pastor deve incentivar a igreja a investir na formação e capacitação de líderes, assegurando que a congregação possa contar em seus ministérios e/ou departamentos com pessoas com visão bíblica correta, capazes de guiar outros com amor, entendimento e no temor do Senhor.

5. Fazer a sucessão segura (passar o bastão)

O último aspecto refere-se à responsabilidade do pastor em garantir uma sucessão segura e bíblica. O apóstolo Paulo orientou Timóteo a treinar outros para que pudessem dar continuidade à obra do ministério (2 Tm 2:2). O pastor deve identificar vocacionados, preparar líderes e potenciais pastores para assumirem o seu lugar, assegurando que a igreja prossiga na proclamação da verdade de Cristo de geração em geração. Isso difere da transmissão do ministério pastoral por hereditariedade, que é um erro terrível que temos observado nestes dias confusos.

A negligência quanto a esse aspecto tem criado uma lacuna ou deficit de liderança que tem causado prejuízos enormes para as igrejas. Não há falta de obreiros, mas falta de obreiros comprometidos com Deus e fiéis às Escrituras, porque há muitos obreiros fraudulentos (2 Co 11:13). Todos os anos, um sem número de pessoas se formam em cursos teológicos, mas nem todos com o preparo adequado e, o mais importante, muitos sem convicção de chamada. Isso sem falar naqueles que nunca tiveram uma experiência real de salvação. É importante observarmos a exortação de Paulo a Timóteo para que a ninguém impusesse precipitadamente as suas mãos (1 Tm 5:22).

Bom seria se cada pastor pudesse conduzir o processo de sua própria sucessão pastoral, passando o bastão para outro servo fiel. No entanto, sabemos que isso raramente acontece. Em muitos casos, isso depende do discernimento e da vontade da igreja, que frequentemente abre mão dos critérios bíblicos (1 Tm 3:1-11) para traçar um perfil de pastor com base em critérios humanos, o que tem causado tristeza e enormes prejuízos no meio do povo de Deus.

Conclusão

Em tempos de crescente apostasia da fé, o papel do pastor é de extrema importância. Ele deve ser guardião da doutrina, defensor das ovelhas e afugentador dos falsos mestres. Neste estudo, enfatizamos cinco aspectos fundamentais do papel do pastor, a saber:

1. Manejar bem a Palavra da Verdade, usando a Bíblia como fonte de autoridade e suficiente para ministrar ao rebanho.

2. Ensinar eficazmente a sã doutrina, pois a doutrina de Cristo é o alicerce da igreja.

3. Resistir aos falsos profetas e mestres, protegendo o rebanho contra ensinamentos heréticos.

4. Formar liderança competente e comprometida, investindo na capacitação de líderes com visão bíblica correta.

5. Fazer a sucessão segura, preparando líderes para continuar a obra do ministério e assegurando que a igreja proclame a verdade de Cristo de geração em geração.

A negligência em qualquer um desses aspectos pode enfraquecer a igreja e comprometer sua fidelidade às Escrituras. Portanto, é fundamental que os pastores atentem a essas responsabilidades para preservar a sã doutrina e o bem-estar espiritual do rebanho confiado a eles.

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Champlin, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. Vol. V. São Paulo: Editora e Distribuidora Candeia, 1995, p. 379

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